Adaptação livre de Lourival A. Cristofoletti, com base em entrevista concedida por Elisa Lucinda
Está desanimado? Anda cansado do seu trabalho? Não consegue achar a menor graça em seu dia-a-dia? Pare de reclamar e de falar mal da rotina: com uma simples atitude a qualidade da sua vida pode se transformar. Você é o sujeito da sua rotina: se ela não é boa, é por pura incompetência sua.
Os dias devem ser tratados como protagonistas, não como coadjuvantes: a felicidade está pulverizada neles. Muitos se acostumam a colocar a culpa na rotina e até na vida pela própria falta de iniciativa. Além de a criticarmos, criamos cárceres e costumamos dar às coisas um peso maior do que realmente têm. Há uma boa notícia: nós mesmos somos os carcereiros.
Em Itaúnas avistei dois garis às oito horas da manhã. Após trabalharem a noite toda, recolhiam um monte de lixo. Um deles cantava e dançava forró com a vassoura enquanto carregava o entulho. O outro, com a cara amarrada, dizia: "Que saco!". A rotina era a mesma, mas o entulho de um deles pesava muito mais.
O sol nasce rotineiramente todos os dias: no entanto a cada despertar ele nos oferece um novo e maravilhoso espetáculo. As ações rotineiras podem, sim, dar prazer e gerar felicidade: o que nos falta é encarar cada dia como uma estréia, já que um dia nunca é igual ao outro. Quer coisa mais rotineira e mais prazerosa do que tomar banho?
As crianças sempre estréiam: em um restaurante elas vibram com uma pizza de calabresa, mesmo que tenham comido uma pizza igual na noite anterior. Inteligentes, elas sabem que não se trata da mesma pizza.
Gostaria de saber quem inventou o termo "cabelo ruim". Se alguém diz que o meu cabelo é ruim e que o seu é bom eu logo digo: "Seu cabelo é bom? Então quer dizer que aos sábados ele faz caridade?". O meu cabelo é muito bom: ele nunca me deixou na mão. Ruim é o cabelo ausente: aquele que cai e lhe deixa na mão quando você mais precisa.
Muito pior é a postura de quem que, além de não conseguir enxergar felicidade na rotina, fica zombando de quem a encontra. Minha empregada fica três horas dentro de um ônibus, para chegar até a minha casa. Outro dia ela me contou que um grupo de passageiros fez uma vaquinha e comemorou o aniversário do cobrador dentro do coletivo. Ela fez o bolo, compraram refrigerantes e cantaram "Parabéns": achei lindo o gesto. Alguns passageiros, em vez de participarem da festa, acharam a atitude ridícula, coisa de gente pobre. Esses passageiros, coitados, perderam momentos de felicidade e de encantamento.
Uma rotina pode passar de ruim a ótima com o uso de palavras que há muito tempo não são ditas: os homens têm dificuldade em dizer "Eu te amo". Acho que eles imaginam que o termo tem um longo prazo de validade: dizem uma vez e não precisam dizer mais. Só que não existe nada melhor do que ouvir dizer isso. O mesmo se pode dizer do chefe em relação aos seus subordinados, em termos de elogios e reconhecimento pela qualidade dos serviços que eles prestam.
As pessoas acham que a rotina é uma entidade que aparece para acabar com o seu trabalho e o seu casamento. A solução é estrear dentro da rotina e enxergar tudo como se fosse pela primeira vez. Um "Eu te amo" na cama não é o mesmo "Eu te amo" de quando um dos dois perde o emprego.
Aprenda com a rotina. Tudo em você é novidade, ou pode ser: pense nisso.
sexta-feira, setembro 17, 2004
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2 comentários:
Mestre, fantastico o seu artigo sobre rotina, acredito realmente que todos os dias são diferentes, pois, se não for eu o faço ser.
Motivador, me lembra as aulas de sociologia.
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