sexta-feira, setembro 17, 2004

PARE DE FALAR MAL DA ROTINA

Adaptação livre de Lourival A. Cristofoletti, com base em entrevista concedida por Elisa Lucinda

Está desanimado? Anda cansado do seu trabalho? Não consegue achar a menor graça em seu dia-a-dia? Pare de reclamar e de falar mal da rotina: com uma simples atitude a qualidade da sua vida pode se transformar. Você é o sujeito da sua rotina: se ela não é boa, é por pura incompetência sua.

Os dias devem ser tratados como protagonistas, não como coadjuvantes: a felicidade está pulverizada neles. Muitos se acostumam a colocar a culpa na rotina e até na vida pela própria falta de iniciativa. Além de a criticarmos, criamos cárceres e costumamos dar às coisas um peso maior do que realmente têm. Há uma boa notícia: nós mesmos somos os carcereiros.

Em Itaúnas avistei dois garis às oito horas da manhã. Após trabalharem a noite toda, recolhiam um monte de lixo. Um deles cantava e dançava forró com a vassoura enquanto carregava o entulho. O outro, com a cara amarrada, dizia: "Que saco!". A rotina era a mesma, mas o entulho de um deles pesava muito mais.

O sol nasce rotineiramente todos os dias: no entanto a cada despertar ele nos oferece um novo e maravilhoso espetáculo. As ações rotineiras podem, sim, dar prazer e gerar felicidade: o que nos falta é encarar cada dia como uma estréia, já que um dia nunca é igual ao outro. Quer coisa mais rotineira e mais prazerosa do que tomar banho?

As crianças sempre estréiam: em um restaurante elas vibram com uma pizza de calabresa, mesmo que tenham comido uma pizza igual na noite anterior. Inteligentes, elas sabem que não se trata da mesma pizza.

Gostaria de saber quem inventou o termo "cabelo ruim". Se alguém diz que o meu cabelo é ruim e que o seu é bom eu logo digo: "Seu cabelo é bom? Então quer dizer que aos sábados ele faz caridade?". O meu cabelo é muito bom: ele nunca me deixou na mão. Ruim é o cabelo ausente: aquele que cai e lhe deixa na mão quando você mais precisa.

Muito pior é a postura de quem que, além de não conseguir enxergar felicidade na rotina, fica zombando de quem a encontra. Minha empregada fica três horas dentro de um ônibus, para chegar até a minha casa. Outro dia ela me contou que um grupo de passageiros fez uma vaquinha e comemorou o aniversário do cobrador dentro do coletivo. Ela fez o bolo, compraram refrigerantes e cantaram "Parabéns": achei lindo o gesto. Alguns passageiros, em vez de participarem da festa, acharam a atitude ridícula, coisa de gente pobre. Esses passageiros, coitados, perderam momentos de felicidade e de encantamento.

Uma rotina pode passar de ruim a ótima com o uso de palavras que há muito tempo não são ditas: os homens têm dificuldade em dizer "Eu te amo". Acho que eles imaginam que o termo tem um longo prazo de validade: dizem uma vez e não precisam dizer mais. Só que não existe nada melhor do que ouvir dizer isso. O mesmo se pode dizer do chefe em relação aos seus subordinados, em termos de elogios e reconhecimento pela qualidade dos serviços que eles prestam.

As pessoas acham que a rotina é uma entidade que aparece para acabar com o seu trabalho e o seu casamento. A solução é estrear dentro da rotina e enxergar tudo como se fosse pela primeira vez. Um "Eu te amo" na cama não é o mesmo "Eu te amo" de quando um dos dois perde o emprego.

Aprenda com a rotina. Tudo em você é novidade, ou pode ser: pense nisso.

LENTIDÃO E SILÊNCIO

Adaptação livre de Lourival A. Cristofoletti, com base em texto de Luiz Gonzaga Alca de Santanna

Duas atitudes internas maravilhosas e indispensáveis, hoje proibidas às pessoas, e tão fundamentais como captação de sinais que nos direcionam são a lentidão e o silêncio. Saíram de moda, ou se tornaram luxos que quase ninguém mais se permite, nessa vida eletrizante e sufocadora em que vivemos.

Quem ousa contrariar esse celerado credo é rotulado, com desprezo: "Inapto, inepto, lerdo, em flagrante descompasso com o mundo". Não se trata, tampouco, de preguiça ou inércia, por favor, nessa lentidão, mas de um olhar mais calmo para o mundo, a fim de não perder os sinais, as mensagens, que o Imponderável e a Natureza nos passam a todo instante em seu mistério grandioso e esclarecedor.

É preciso desprendimento e muita sabedoria para estar atento à essa lentidão: desacelerar, romper a inércia para poder estar na calma lúcida da apreensão. Captar sinais na natureza, emanar positivas vibrações.

Mesmo no meio do trânsito, ainda que a agenda seja apertada, com toda a correria proposta ou exigida por essa sociedade utilitarista em que vivemos, há tempo para perceber as novidades da paisagem, para uma lentidão interna: perceber as chegadas e os ritos de passagem.

Saber se soltar para poder estabelecer uma convivência com um certo silêncio, tão precioso para o nosso envolvimento pessoal: nossa alma precisa de colo, nosso coração carece de repouso. Permitir-se, enveredar pelo silêncio: preciosa essa lentidão, virtude que nos alimenta, que nos conecta com nossas emoções e que nunca é pasmaceira.

Há quem jamais consiga ficar no silêncio por um único momento: mal chega em casa, quando está só, liga o rádio, a tevê, o som. O silêncio parece-lhe aterrador: propicia que se ouçam as vozes internas, e isto é tudo o que tanto teme.

É um bem precioso e tão absurdamente ignorado: "Quem não anda e não vive apressado, não está muito bem da cabeça".
Quando a China invadiu o Tibet, o Dalai Lama disse:
- ‘‘Vocês roubaram o que tínhamos de mais precioso: o nosso silêncio’’.

Quem sabe gradativamente não ocorre uma conspiração silenciosa que nos resgate e nos habilite a reconceituar o tempo e a reaprender a viver. Denis de Rougemont, num exercício de restauração, declarou:
‘‘O reaprendizado da lentidão, como é importante! O sonho é que, um dia, toda a humanidade descubra esse luxo inaudito: a lentidão no meio do silêncio’’.

Aí então, o recolhimento será virtude; o silêncio, uma preciosa moeda de troca.

LETRA, PAPEL, LÁPIS, CANETA

A escrita à mão costuma denunciar quem a escreve: ela é mais reveladora do seu jeito de ser do que você imagina. É parte relevante da imagem projetada pelo seu cartão de visitas diário para todos aqueles que entram em contato com algum manuscrito seu.

É comum as pessoas conjugarem várias das possibilidades relatadas abaixo: isso significa que ninguém é de um único jeito de ser, definido, absoluto. Cada um de nós reúne diferentes características, em termos de hábitos, e é isso que nos torna encantadores, singulares, únicos. Como conforto diante de alguma descoberta não muito agradável sobre o seu jeito de ser, revelada na sua letra: sempre você poderá modificar algo na conduta, que depõe contra si ou que não lhe agrada em jeito de ser.
Letra pequena: uma pessoa reservada, discreta, que não gosta de ser notada e nem de se fazer notar. Quer passar desapercebida: "O que será que vão pensar de mim?"; "Será que alguém notou a minha presença?". Na maioria das vezes, tímida. Em muitos casos, insegura.

Letra de forma: alguém que não quer ser igual a todo mundo. Tem seu estilo próprio. Gosta de ser diferente da maioria, além de deixar claro o que quer dizer. Pode também demonstrar que não gosta muito de escrever, ou que não escreve com muita freqüência.

Letra comprimida (uma muito junta da outra): sente-se oprimida, pressionada e está revelando o seu desconforto diante de tudo isso. Pode significar tensão. Pode, também, ser uma pessoa econômica (quanto menor o espaço ocupado, menor o consumo de linhas e de papel).

Letra grande: "Eu uso o espaço que eu quiser e que me der vontade: não parei ainda para pensar no espaço dos outros". Não usa muito o senso crítico, nem que aja assim por ingenuidade, por ausência de maldade. Não escreve com muita freqüência: quando o faz, precisa de mais tempo do que o normal para se expressar.

Letra rococó (trabalhada): Uma pessoa pura, conservadora, esteta. Tem a vaidade em alto conceito, gosta de se produzir e de ser vista. Adora receber elogios, adora criar e usar mecanismos para que esses elogios aconteçam. Demonstra preocupação com detalhes e com a sua imagem.

Letra garrancho (rústica): é uma pessoa simples, que não faz da escrita uma das suas atividades prediletas. Escreve só por obrigação e nem se sente muito à vontade quando o faz. Prefere cuidar mais da sua vida: não dá palpites e nem emite sua opinião para os outros. Entende que cada um deve cuidar de si e que Deus deve cuidar de todos.

Linha inclinada (para baixo ou para cima): é chegada a um devaneio, a uma abstração, a uma fuga da realidade. Gosta de ser orientada com clareza (precisa disso). Sonhadora, envolta em seus pensamentos, se esquece de prestar atenção nas coisas a seu redor.

Texto a lápis: não abre mão das "muletas" para escrever. Não adquire segurança na produção do texto porque sempre conta com o recurso de apagar ou consertar o que não está de acordo. Nada é definitivo: é uma maneira de não se comprometer. A mensagem que vai para o inconsciente é: "Não precisa elaborar já da primeira vez a versão final: sempre que necessitar, use a borracha". Esta característica do uso do lápis pode limitar, pode inibir o desenvolvimento do senso crítico, do senso lógico, da consolidação da opinião nos processos de decisão.

Pressiona forte a caneta: para ela, energia é fundamental. Não deve ser muito chegada a suavidades. Gosta das coisas muito claras e definidas. Sabe com nitidez o que quer. Pratica o "jogo limpo". Pode enveredar para a linha: "Sou curto e grosso".

Uso de folha pautada: gosta do certinho, do ortodoxo, do pré-definido, do seguro, como se dissesse: "Não dou conta de controlar sozinho o meu rumo". Precisa sempre de balizadores muito bem definidos na vida: "Se não for vigiado, eu saio da linha, eu perco limites".

Erros de português: não costuma fazer exercícios de autocrítica regularmente. Não tem hábitos muito freqüentes de leitura. Precisa ser informada que a melhor maneira de escrever bem (clareza, conteúdo, concisão, leveza, objetividade, coerência, lógica) se consegue lendo muito, muito mesmo (prestando atenção na grafia das palavras, recorrendo ao dicionário, aprendendo sobre como harmonizar o texto).

Um dos caminhos recomendados para que a mudança seja verdadeira seria primeiro você se conhecer melhor, mudar hábitos que lhe atrapalham de alguma forma, para que a alteração na grafia seja uma conseqüência da mudança de atitude na vida.

A propósito, como você se vê definido e representado, neste texto, através da sua letra e dos seus outros mecanismos / hábitos de escrita?

L.A.C.