quinta-feira, dezembro 16, 2004

ENTRE A NEGATIVIDADE E AS NECESSÁRIAS NEGAÇÕES

"Não pode.", "Não mexa.", "Não quebre.", "Não suba.", Não pegue.", "Não derrube.", "Você não sabe.", "Você não consegue.", "Você vai cair.", "Você vai se machucar.", "É muito difícil para você.", "É complicado para a sua idade.", "Deixa que eu faço por você.", "Só vai poder quando você for grande.", "Deixa que eu decido: eu sei o que é melhor.", "Porque não, e pronto.", "Um dia você vai me entender."

"Não se mexa.", "Não realize.", "Não ouse.", "Não aja.", "Não volte atrás.", ""Não dê mole.", "Não perdoe.", "Não reconsidere.", "Não dê desconto.", "Não lute.", "Não se permita mudar.", "Não adianta tentar.", "Não vai conseguir".

Não se furte à ação, não se exima, não se culpe, não se isole, não se aliene, não se despreze, não se contente com quase nada, não se anule, não se acomode, não se martirize, não se desvalorize, não se anule, não se baste, não se poupe, não se agrida.

Não espere demais, não se desvie de si, não se destrua, não se aniquile, não se omita, não se oculte, não minta, não se isole, não deixe por menos, não blasfeme, não vacile, não se condene, não fuja da raia, não levante falso testemunho.

"É muito difícil.", "Logo agora você vai querer isto?", "Tá tão bom do jeito que tá.", "Por que você não desiste?", "Você não está querendo muito, não?", "Não vai dar certo.", "O mar não tá pra peixe.", "Deixa para um outro momento.", "Você vai trocar o certo pelo duvidoso?", "Onde você está com a cabeça?", " "Devagar com o andor".

Não se feche, não racionalize tudo, não se faça de vítima, não teorize a vida, não queira ser a palmatória do mundo, não seja um coitado, não sofra por antecedência, não complique, não dê murro em ponta de faca, não carregue o mundo nas costas.

"Não está ao seu alcance.", "Não é para o seu bico.", "É muita terra para o seu caminhão.", "Não insista.", "Na teoria isso é bonito.", "Não é viável no atual contexto.", "É muita pretensão.", "Não há tempo para essas coisas.", "Você ficou maluco?", "Não é possível.", "Não tem a menor chance de dar certo.", "Ninguém antes conseguiu".

"Não se complemente.", "Não se realize.", "Não vale a pena.", "Não viaje na maionese.", "Não me fale mais nisso.", "Não vai ser possível.", "Quando eu tinha a sua idade eu também achava que era possível.", "Não há clima para isso.", "Não passa de uma fantasia.", "Não se iluda tanto.", "Não, não e não".

Não lhe devo satisfação; você não manda em mim; você não tem o direito de agir assim em relação à minha pessoa; você pediu: não reclame; você não pode decidir por mim; não lhe dou o direito de falar assim comigo; você passou dos limites; você vai ter agora o que merece.

"Não quero nada.", Não sei.", "Não trabalho com hipóteses.", "Não consigo.", "Não tenho mais idade para isso.", "Não vou conseguir.", "Não vai me entender.", "Não estou preparado.", "Não tenho estrutura.", "Não se faça de rogado.", "Não enche o saco.", "Não abra o bico.", "Não sei o que quero".

"Não me deixe só.", "Não me abandone jamais: você é tudo o que eu tenho.", "Eu não sei viver sem você ao meu lado.", "Não diga isso justamente agora que a nossa relação estava mais madura, estava crescendo?", "Você não sabe viver sem mim.", "Você não era ninguém antes de me conhecer."

Com qual grupo você mais bem se identificou? Quais dessas negatividades já fizeram parte do seu usual repertório? Quantas ainda constam do seu arsenal? Quantas carapuças você vestiu? Como estão os seus mecanismos de autoproteção? Você conhece alguém em quem cairiam como uma luva alguns desses condicionamentos restritivos/negativos? Você é reativo ou proativo? Quando é necessário reagir, você o faz quanto tempo depois do necessário?

A negatividade coage, intimida, limita, discrimina, veta, diminui, proíbe, pune, cerceia, condena, prejulga, ilude, exclui, diminui, marginaliza, bloqueia, exclui. Destrói sonhos e fantasias, fecha portas, traz complexos, contamina amizades, destrói amores.

O bom uso da negação pode expandir, criar, clarear, oportunizar, esclarecer, libertar. Pode impor necessários limites, pode extrapolar limites, viabilizar sonhos. Escancara portas, restaura fantasia, resgata dignidade, reacende a chama do amor próprio.

O que você vai fazer de diferente a partir de agora? Tomar partido é fundamental: defender-se, ajudar quem precisa de sua intervenção, dar conselhos, dar um "chega pra lá" em alguns, abrir os olhos de outros. Sempre há tempo para você assumir o leme da sua vida e ajudar outros a fazê-lo, também.

L.A.C.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

ABSTRAÇÕES

Eu produzo escritos como quem espezinha o fútil esforço de mobilizar energias para, de forma premente, fazer algo de maneira a livre deixar tudo como está.

Faço-o como crítica a quem se encaminha muito fazer para nada mudar, que acha que tudo é fatalidade, como se fosse um servil operário da obra do destino, como se fosse criança no meio da conversa de gente grande.

Como pode alguém se considerar irrelevante detalhe da complexa engrenagem que trava a teia da sua vida? Que direito tem quem respeita demais o receio, cortando o caminho e limitando o espaço do necessário devaneio? Como negar ao viés o espaço como parte da necessária razão?

Dou respaldo ao direito da discórdia crítica que constrói respostas. Que, diante da perspectiva da luta, vista como coisa de poucos, permite que assole a alma, solape o sonho, dando crédito ao veredito de que quase vida vale a pena.

Não se prepara para o embate fugindo da luta, que só existe para dar vazão aos seus desígnios e emulação aos seus propósitos. É tempo de novas roupagens para surrados paradigmas, que se esvaem por si, só subsistindo por conta dos frágeis fugitivos dos elementares de surrados conformes, numa trajetória vã.

Quem espera sempre alcança a frustração do contentar-se com o parco, por pouco ter feito, justamente quando tudo estava à sua mão.

Devagar se vai ao longe na viagem do tempo perdido, da máxima frustração pelo mínimo realizar, com a estúpida satisfação de quem se sacia com muito pouco.
Mais vale um pássaro na mão do comedimento forçado, que insiste em considerar migalhas como alimento e que se sacia diante da perspectiva de convier com uma fome discreta.

Quem tudo quer, tudo perde em termos de medos, temores, recalques; lembra-se que na vida só não está ao alcance o que não se sonhou, que se fez verdade na sua concepção ética do muito querer, além do que lhe cabe no amplo e infinito espectro do concreto porvir.

De grão em grão a galinha enche o papo de ilusões baratas, como se vitórias lhe caíssem no colo, como se os sonhos fossem irrealizáveis, como quem acredita que esperar sentado é virtude, de que saber contentar-se com pouco é nobre, de que ousar é pecado, de que sonhar é delírio, de que realizar é obra para o campo da utopia.

Dar um passo de cada vez é a melhor receita para muito pouco realizar. É se contentar em fazer pequenos e reparos na sua obra de vida.

É ser um espectador da vida em cima de um florido muro, no de forma fortuita de quem comete repetidos delitos, teimando em esquecer que o livre acesso para o seu necessário desfrute está ao seu inteiro alcance, como de resto sempre esteve, sem grandes alardes.

Como não captar que a senha se mostra disponível a todo aquele que entende que inércia não rompida se esvai em si, constituindo total perda de tempo e desperdício de energia, numa fragmentação forçada dos sonhos.

É estreitar possibilidades, é minar a essência do sopro de vida que tudo permite, que apenas cerceia o que se deixa conter, o que nada natural pensa ter, o que aceita quase nada ser, o que exercita o eterno convalescer.

Como pode nada plantar e se dar ao luxo de ficar à espreita, na fútil esperança de, um dia, lançar mão da colheita que, por direito e lógica, não lhe cabe? Que nunca soube que a indagação compõe a partitura da crítica, que a ética permeia a razão, que a lucidez desperta propósitos, que o sonho acalenta o resultado.

É mais que tempo de aguçar os ouvidos da fantasia, para captar suaves sussurros no canteiro das possibilidades que, de graça, apontam infinitos caminhos, num desdobrar frenético e contínuo das coisas que, por viverem em ebulição, entendem como justo o esperar por quem anseie e anseie materializá-las, adentrando o espaço do prazer da realização.

L.A.C.

A GRATIDÃO E AS PEQUENAS GENTILEZAS

Dói constatar que há muita pouco espaço para a gratidão manifesta, não importa sobre que tipo de justificativa: somos pródigos em arrumar desculpas, mesmo a respeito de pequenas omissões. Geralmente não nos detemos o suficiente para analisar a importância que tiveram e têm em nossas vidas os conselhos e as atitudes de pessoas que cruzaram o nosso caminho nas mais variadas circunstâncias (muitas vezes nem as conhecíamos, o que não as impediram de ter desempenhado um papel importantíssimo no rumo de nossas vidas).

Estão perdidas em algum canto obscuro da nossa memória aquelas pessoas que:

- despertaram em nós uma vocação, ou até mesmo nos ensinaram a arte de um hobby, de um esporte, de uma profissão: foram para nós, num determinado momento, um ícone, uma referência; lógico que depois, fizemos por merecer o que somos e construímos hoje, mas, seguramente, sem aquele "empurrão", tudo teria sido muito mais difícil (ou, quem sabe, até impossível);
- num momento difícil de nossas vidas, em que o dinheiro era muito escasso, alimentaram nossos estômagos vazios, com lanches simples e maravilhosos, e/ou nos abrigaram por uns tempos, cedendo um espaço para ficarmos, tudo isso sem nada nos cobrar;
- nos disseram que haveria um concurso interessante, e, que muitas vezes, até nos emprestaram o dinheiro para a inscrição (através delas prestamos o concurso, fomos aprovados e estamos trabalhando lá até hoje);
- nos apresentaram ao mundo das artes e da cultura em geral, emprestando-nos discos e livros, nos permitindo o acesso à leitura de jornais, revistas (muitas vezes, nem nos emprestaram nada, mas, como vizinhos, nos brindaram com o som de cantores e músicas inesquecíveis, muitos deles determinantes nos rumos da nossa vida.

Merecem igualmente um espaço nobre na galeria da gratidão todas as pessoas que trabalharam par nós, ou nós prestaram serviços (em escolas, creches), cuidando de nossos filhos, principalmente quando eles eram mais indefesos: você pode até argumentar que sempre lhes pagou muito bem por esse serviço (o que não se discute), mas não se esqueça que, mesmo assim, seus filhos poderiam ter sido mal-educados, maltratatados, agredidos, ter adquirido péssimos hábitos.

As pessoas, quando são atendidas em suas pequenas ou grandes solicitações, raramente se dignam a agradecer a gentileza a quem as valorizou e se mobilizou, sabe lá a que preço (em termos de dificuldade, de ordenação de agenda, disponibilidade de tempo), para atendê-las.

Agem como se fosse obrigação sua, como se fossem naturais os pedidos delas, como se fosse uma honra atendê-las, mesmo que você nunca as tenha visto ou ouvido falar delas antes. É bom se ressaltar que, quanto maior a amizade, maior a necessidade da valorização do gesto.

É restrito, também, o espaço das pequenas gentilezas, principalmente no trânsito. Quando você quer sair de uma vaga diagonal, e o trânsito está intenso, é normal você ter que esperar muito tempo: geralmente alguém só pára o carro e lhe dá passagem se ele estiver interessado em ocupar a sua vaga.

Se você quase sobe na calçada com o carro, ou espera pacientemente, para lhe dar passagem, o motorista passa por você na maior imponência e desprezo, sem olhar de lado e sem dar o menor aceno de reconhecimento pela gentileza com que foi distinguido, como se fosse um imenso prazer para você ter cedido espaço para tão importante personalidade.

Vestidas as carapuças, o mais importante de qualquer reflexão não é provocar lágrimas, arrependimentos, auto-censuras: o que mais interessa é, com base no estímulo ao nosso campo de memória, o que podemos fazer de diferente agora, a partir do resgate da consciência de significativos momentos de nossa existência.

É possível reparar alguma coisa com aquelas pessoas que tanto representaram para nós? Se a resposta for negativa ("já morreram", "não tenho a menor idéia como reencontrá-las", etc.), cabe outra reflexão, como forma grata de "pagamento" pelo que, de maravilhoso, recebi um dia: "O que está ao meu alcance fazer, para participar da vida de outras pessoas, que, no momento presente, tal como eu, precisam de algum tipo de estímulo?".

E por que tudo isso? E por que dar atenção a esses convites? Se não movido por impulsos afetivos, éticos e de reconhecimento
, pelo menos em atenção a um princípio interessante na vida, que nos convida a continuamente renovarmos o ciclo "receber, agradecer, desfrutar, compartilhar, devolver".

L.A.C.

sábado, dezembro 11, 2004

DICAS PARA INÍCIO DE CARREIRA

Passada a euforia da boa nova (reconhecimento do mérito, orgulho pelo resultado, votos de felicidades), em que meu filho mais velho, Paulo Alexandre, após um difícil processo seletivo, foi admitido numa grande empresa, num cargo representativo, resolvi dizer a ele algumas coisas que eu gostaria muito de tê-las ouvido, muitos anos atrás, quando eu iniciei uma parecida jornada.

"Agora que você conseguiu um emprego compatível com as suas aspirações, tenha prudência e comece com o pé direito: reflita sobre as questões abaixo e implemente aquilo que julgar compatível com a sua realidade e o seu jeito de ser.

Em vez de conselhos, parecem-se mais com dicas de alguém que trabalha com o assunto e que percebe deslizes que, mesmo cometidos de forma inocente e natural, muitas vezes acabam pesando no resultado da avaliação da sua pessoa e na formação de imagem que fazem a seu respeito.

Ter opinião própria é maravilhoso, mas cuidado com a forma e o local em que a manifesta: lembre-se da relatividade das coisas e de que o que é óbvio e definitivo para você, pode ser absurdo e incompreensivo para o outro. Respeite, sim, a sua verdade, sem se esquecer que ela é a sua, existindo milhares de outras verdades procedentes nas demais pessoas.

Não queira ter a pretensão de converter almas e de reverter ideologias alheias: cada um sabe o seu momento e a suas conveniências pessoais em termos de filosofia de vida, idéias, propósitos, princípios. Contente-se, no máximo, em descobrir pessoas que compartilham dos seus pensamentos, ou que queiram ser adeptos dos seus ideais. Lembre-se que o verdadeiro aprendizado advém do embate das idéias, ocasiões em que você tem a rica oportunidade de confirmar suas crenças ou reformular alguns dos seus princípios.

Ante um certo prazer em bater no peito e dizer "Eu sou mais eu", lembre-se que todos nós interpretamos na vida inúmeros papéis, alguns deles simultaneamente, sofrendo incríveis variações no espaço de algumas horas de um dia. E uma possível atitude sua de querer ser espontâneo, sem ligar muito para os sentimentos dos outros, ou sobre o que vão pensar, até nesse momento você estará também desempenhando um papel: o de rebelde com ou sem causa, o do idealista com pureza de princípios, mas ingênuo de resultados.

Atenção com a barba, sempre muito bem feita e com os cabelos, bem cortados. As roupas devem estar sempre muito bem cuidadas: evite as cores fortes, os estampados chamativos, os modelos ousados, os trajes enfeitadas: quem tem que chamar a atenção é você, através da conduta, das suas idéias, da sua performance diária.

Cuidado com os excessos, pois geralmente essas posturas quase nunca são bem-vindas e sempre dão margem para pré-julgamentos, muitas vezes distorcidos: moderno demais, duro demais, calado demais, brincalhão demais, ousado demais, sensível demais. Um pouco de tempero em tudo sempre cai muito bem em qualquer situação.

Vale a pena investir no guarda-roupa: não precisa fazer o estilo "clean", o jeito insosso. Por outro lado, atenção com as roupas desbotadas, sapatos de cores muito diferentes, mal-conservados ou com salto/sola gastos.

Tenha mais de um "blazer", para as formalidades das diversas situações sociais: compõem melhor a imagem, dando um ar de civilidade, elegância e bom-gosto. Combine cinto com sapato (devem ser da mesma cor), combine cor das meias com a cor da calça (no entendimento de alguns, meias são consideradas extensão dos sapatos).

Observe sempre o grupo ao qual faz parte no trabalho e nos treinamentos: fique com a metade mais inserida nos parâmetros (nessa fase de integração no novo emprego, atenção para quantos usam calça jeans, tênis e quantos usam calça social e sapatos). Ninguém está lhe convidando para abandonar seus gostos pessoais em termos de vestuário: apenas estou lhe dizendo que são dois ambientes distintos, com rituais próprios, que merecem posturas, maneiras e atitudes diferenciadas.

Deixe uma primeira impressão positiva (dizem que você nunca terá uma segunda chance de causar uma primeira boa impressão) no jeito de se ser, de se vestir, de falar. Não se abra muito, não abra muito a guarda: as pessoas, nesses momentos, ficam muito atentas aos "defeitos" dos outros (o falastrão, o ingênuo, o papudo, o caipira, o ignorante, o sabichão).


Não desperdice oportunidades de fazer o seu marketing pessoal (com habilidade e nos momentos adequados fale sobre quem você é e sobre suas aptidões/habilidades, talentos: cuidado para não ser chato, exagerado, inconveniente).

Fique atento a tudo (Deus está nos detalhes): interesse-se pelas normas, saiba dos seus direitos e das suas obrigação. Anote tudo o que você achar interessante: certamente essas anotações poderão lhes ser muito úteis, como memória, fonte de consulta e lembretes.

Compre um livro de gramática e estude a grafia correta das palavras, concordância, acentuação, pontuação, dentre outros. Uma boa redação (com conteúdo, poder de síntese, clareza de idéias, fluência de texto), aliada com um texto sem erros, irá lhe abrir muitas e muitas portas.

Invista na letra: deixe-a num bom tamanho e pratique bastante a escrita: quanto mais a gente escreve, mais legível, definida e personalizada a letra da gente fica. A propósito, à medida que você investir no autodesenvolvimento, naturalmente aparecerão positivos reflexos na sua letra.

Seja simples, humilde, mas não seja simplório (imponha-se, defenda-se). Quando pedirem opinião, não se omita: lembre-se que você erra 100% dos chutes que você não dá. Da mesma forma que é ruim aquele que nada fala (é uma "múmia" em sala), ninguém gosta do "aparecido", que fala demais, opina demais (só dá ele na sala).

Atenção com o celular: nos treinamentos ele deve ficar no vibra-call. Se perceber que a chamada é importante, com a máxima discrição, diga "um momento" e saia da sala para atender a ligação. Se você se esqueceu de colocar no vibra-call e o telefone tocar, aja o mais rápido possível. Depois, se desculpe com o instrutor e com a turma de uma forma bem breve (sem explicações detalhadas).

São observações esparsas que me vêm à mente enquanto as digito para você. Não estou subestimando você, nem sua competência e discernimento com estes meus comentários: talvez você já saiba o que fazer em todas essas situações acima. Eu só estou sendo cauteloso e carinhoso com você.

Um beijo.
Seu pai."

L.A.C

PEDIDOS E ANSEIOS

Cuidado para não se contentar com os estreitos limites de uma mente linear, que só consegue captar e vislumbrar o que é exaustiva e explicitamente verbalizado e mostrado, como alguém que está condicionado a digerir o que está fartamente mastigado, sem possibilidades ou necessidade de elaborações, discordâncias, questionamentos.

Expanda os seus limites de consciência, permita que se amplie cada vez mais e de forma mais abrangente o seu território do tatear, do saber, do descobrir. Renove gradativamente o campo das descobertas, o universo dos seus paradigmas, a extensão das coisas sobre as quais tem dúvidas. O mundo das certezas é cada vez mais reduzido: quase tudo é possibilidade, oferecendo sempre a perspectiva de um redesenho e de novas interpretações. Precisamos mudar intensamente, o tempo todo, para sempre ser nós mesmos.

Dizem que quem, no mundo atual, não se sente confuso de alguma forma ou em algum contexto, certamente está mal informado. A dúvida e a mudança constituem grandes certezas, ao lado da morte, sobre a qual somos extremamente incapazes (fugimos desse assunto, recusamo-nos a abordá-la, procedendo como aquele que quebra o termômetro na esperança que a febre cesse).

Faça a sua parte de forma consistente e apaixonada: inferências, abstrações, deduções, analogias, induções, paralelos são indispensáveis em todas as situações da vida. Não se prenda apenas àquilo que foi claramente dito, ao o que lhe pareceu certo num primeiro momento. Procure enxergar a questão sob a ótica de todos os personagens possíveis: é uma excelente maneira de esgotar o máximo de possibilidades, para, assim, conseguir uma solução com maior perspectiva de ser adequada.

Rogo sempre a Deus que me permita ser claro ao explicitar minhas intenções e propostas. Lamento muito por todas as vezes em que eu não tenha conseguido me fazer entender quanto à minha proposta de trabalho, sobre os métodos que utilizo e nos quais ardorosamente acredito. Minha boa intenção não me basta para atingir os meus propósitos: acredito, sim, que a ala que mais cresce no inferno é a das pessoas bem-intencionadas. Minha luta com a clareza é permanente.

Peço, também, a Deus que expanda os seus limites de absorção das coisas, para que exercite, de forma plena, a sua capacidade de leitura nas entrelinhas, extraindo sempre o melhor de cada proposta ou possibilidade, não se contentando, nem se dignando a apenas enxergar e focar aquilo que não gostou, que não compreendeu, com o qual não concorda.

Permita-se, também, valorizar, no seu processo de crítica, tudo o que de maravilhoso você descobriu, aprendeu, utilizou. É injusto e egoísta, também, valorizar apenas as idéias que combinam com o seu jeito de ser, com as suas crenças, seus dogmas, sua ideologia e com as suas necessidades mais prementes de conhecimento e de crescimento.

Não tenha a expectativa, nem fique esperando que alguém seja o supridor de suas carências e necessidades específicas de crescimento, nem é conveniente ter a pretensão de procurar e encontrar quem o faça feliz. Esse compromisso é intransferível: a felicidade, como a motivação, são chaves que só abrem por dentro.

Invista na sua base de formação: você precisa, sim, de um conhecimento mais específico, mas ele só fará sentido se você também dispuser e souber utilizar uma sabedoria mais abrangente, de raízes. Se não investir no seu ser, nas suas necessidades mais prementes, de pouco ou nada adiantarão enunciados, tratados, credos, estatutos, metodologias, ferramentas: será como oferecer pérolas como refeição para os porcos.

Como Educador não atuo para reprovar ninguém: tento apenas lhes mostrar caminhos, hipóteses, possibilidades. Cada um escolhe se quer assinar a sua própria sentença. Não impinjo nenhum flagelo a quem quer que seja: a maior penitência que uma pessoa pode se submeter é assumir e conviver harmoniosamente com a sua própria perspectiva de mediocridade.

L.A.C.