terça-feira, setembro 28, 2004

INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO

Em 1865 foram necessários treze dias para a Europa saber que Abraham Lincoln havia sido assassinado. Hoje em dia uma oscilação forte na Bolsa de Valores de um País leva algum segundos para levar seu efeito devastador a todas as Bolsas do mundo. Atualmente uma edição do jornal New York Times contém mais informação do que uma pessoa comum poderia receber durante toda a vida na Inglaterra do século XVII (Ansiedade de Informação, Richard Wurman).

Dizem que na Idade Média aquele que tivesse lido dez livros era considerado erudito. Se possuísse duas dezenas de exemplares tinha uma biblioteca particular respeitável. A Biblioteca da Alexandria, a maior do mundo à época, possuía seiscentos mil documentos. Hoje em dia na Internet, com cerca de sete bilhões de sites, ingressam milhares de novos usuários a cada minuto.

Hoje em dia as pessoas podem ter muitos livros em sua casa, mas se conversar com elas, descobrirá que leram pouquíssimos. Desses, em alguns a leitura se perdeu nos primeiros capítulos. Compram-se livros pelos mais diversos motivos: por ser best-seller, por ser o livro ou o autor da moda, por ser o roteiro de algum filme, novela ou mini-série, ou por ser do tipo auto-ajuda, sem contar todos os livros ganhos (nem sempre do agrado do presenteado). Compra-se também para formar uma bela biblioteca e impressionar quem visita a sua casa, como efeito decorativo (preencher os espaços vagos nas estantes).

Há uma distância infinita entre Informação (disponível e bombardeada a todo segundo pela mídia através de telejornais, sites, diferentes meios de comunicação) e Conhecimento (o que é incorporado ao seu repertório e que sobra depois que você realizou todos os filtros seletivos).

Tudo é pressa e correria atualmente: é comum ficar estressado e até deprimido por tanta coisa que se quer ler, ver e fazer, sabendo que não vai ter tempo de realizar nem um milionésimo do que se pretendia. Tudo envelhece a uma velocidade espantosa: teorias, padrões, conceitos, ferramentas, heróis, modelos, palavras, gírias, ideologias, tecnologias.

Nos próximos anos, a cada 90 dias dobrará a quantidade de informação disponível no mundo: se por algum tempo alguém ficar em coma, ou isolado, por algum tempo, sem acesso à mídia, certamente, quando retomar à informação, estará defasado do contexto mundial.

A psicanalista Anna Verônica Mautner (Revista Superinteressante) nos fala sobre a importância de se respeitar limites: Ler e aprender sempre foi tido como algo bom ,algo que deveríamos fazer cada vez mais. Não sabíamos que haveria um limite para isso. Está acontecendo com a informação o que já aconteceu com o hábito alimentar: em vez de ficarmos bem nutridos, estamos ficando obesos de informação.

É uma avalanche de informação que dificulta sobremaneira o processo de priorização e de seletividade de cada um: são caixas postais entupidas de e-mails, são revistas e livros que você guarda com a pretensão de ler um dia e se frustra porque sabe que não conseguirá fazê-lo. O grande desafio não é acumular mais conhecimento: cada um deveria aprender como fazer para colocar o que sabe (e com as descobertas) num contexto que tenha sentido prático. Aí, quem sabe, reduz-se o stress, abrindo espaço para os resultados.

L.A.C.