sexta-feira, setembro 17, 2004

LENTIDÃO E SILÊNCIO

Adaptação livre de Lourival A. Cristofoletti, com base em texto de Luiz Gonzaga Alca de Santanna

Duas atitudes internas maravilhosas e indispensáveis, hoje proibidas às pessoas, e tão fundamentais como captação de sinais que nos direcionam são a lentidão e o silêncio. Saíram de moda, ou se tornaram luxos que quase ninguém mais se permite, nessa vida eletrizante e sufocadora em que vivemos.

Quem ousa contrariar esse celerado credo é rotulado, com desprezo: "Inapto, inepto, lerdo, em flagrante descompasso com o mundo". Não se trata, tampouco, de preguiça ou inércia, por favor, nessa lentidão, mas de um olhar mais calmo para o mundo, a fim de não perder os sinais, as mensagens, que o Imponderável e a Natureza nos passam a todo instante em seu mistério grandioso e esclarecedor.

É preciso desprendimento e muita sabedoria para estar atento à essa lentidão: desacelerar, romper a inércia para poder estar na calma lúcida da apreensão. Captar sinais na natureza, emanar positivas vibrações.

Mesmo no meio do trânsito, ainda que a agenda seja apertada, com toda a correria proposta ou exigida por essa sociedade utilitarista em que vivemos, há tempo para perceber as novidades da paisagem, para uma lentidão interna: perceber as chegadas e os ritos de passagem.

Saber se soltar para poder estabelecer uma convivência com um certo silêncio, tão precioso para o nosso envolvimento pessoal: nossa alma precisa de colo, nosso coração carece de repouso. Permitir-se, enveredar pelo silêncio: preciosa essa lentidão, virtude que nos alimenta, que nos conecta com nossas emoções e que nunca é pasmaceira.

Há quem jamais consiga ficar no silêncio por um único momento: mal chega em casa, quando está só, liga o rádio, a tevê, o som. O silêncio parece-lhe aterrador: propicia que se ouçam as vozes internas, e isto é tudo o que tanto teme.

É um bem precioso e tão absurdamente ignorado: "Quem não anda e não vive apressado, não está muito bem da cabeça".
Quando a China invadiu o Tibet, o Dalai Lama disse:
- ‘‘Vocês roubaram o que tínhamos de mais precioso: o nosso silêncio’’.

Quem sabe gradativamente não ocorre uma conspiração silenciosa que nos resgate e nos habilite a reconceituar o tempo e a reaprender a viver. Denis de Rougemont, num exercício de restauração, declarou:
‘‘O reaprendizado da lentidão, como é importante! O sonho é que, um dia, toda a humanidade descubra esse luxo inaudito: a lentidão no meio do silêncio’’.

Aí então, o recolhimento será virtude; o silêncio, uma preciosa moeda de troca.

Um comentário:

Anônimo disse...

O texto lentidão e Silêncio, me fez refletir bastante sobre a necessidade real de ser uma pessoa um pouco mais tranquila, ser lento, captar a essencia das coisas que estão ao nosso redor e usufruir o maximo possivel de cada momento e sempre que possivel aproveitar o silencio, pensar em nossas vidas, imaginar o quanto somos abençoados por estarmos aqui vivos. Eu talvez como a maioria, me prendo muito a rotina a correria do dia a dia, e talvez não tenha tido essa visão ainda por não imaginar o quanto coisas tão conhecidas mais ao mesmo tempo esquecidas como a lentidão e o silêncio podem nos auxiliar em nosso dia a dia.
* Estou gostando muito do blog, espero que o senhor continue ampliando - o a cada dia.
Saudações
Igor F. Vieira
Ciencia da Computação Faesa